domingo, 16 de novembro de 2008

Olhos míudos

Aquele homem de olhos míudos a fazia apertar mais os seus para enxergá-lo melhor. Não bastava vê-lo. Queria decifrá-lo: voz doce e mãos finas que prometiam um mundo de sutilezas. Ondas calmas em areia branca. Pois eram apenas promessas - promessas, apenas. O homem era de gestos duros, inertes. Eram pedra, eram mudez. Ela não desejava aqueles gestos-não-gestos. Queria beber das ondas sem sal, andar nas praias sem pedregulhos.

Espantou-se ao descobrir que a voz-melodia do homem era silenciosa. Ou os ouvidos dela, surdos.

Deixou- se afundar na cadeira enquanto sorvia do café morno que lhe ofereceu. Engoliu do amargo-insosso, sem fazer careta e encarar algum olho.

- Gosto do café dele, apesar de tudo - pensou.

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